segunda-feira, 26 de abril de 2010

O Yoga e suas ramificações






Os seis principais sistemas em que o Yoga se ramificou são: Bhakti, Jnãna, Karma, Kriya, Raja e Hatha Yoga.

A saber:

1. Bhakti (Yoga devocional) suas principais práticas são: ouvir, cantar (mantras), lembrar e servir amorosamente. 

2. Jnãna (Yoga do conhecimento) baseado nos Upanixads (parte final dos Vedas) e caracterizado pelo estudo, investigação e discernimento intelectual.

3. Karma (Yoga da Ação ou Serviço) quando praticante dedica todas as suas ações e frutos à Divindade, muitas vezes trabalhando em prol da humanidade.

4. Kriya Yoga, sistema que remonta tempos imemoriais, tendo sido resgatado na modernidade através do Yogi Lahiri Mahasaya, que recebeu os ensinamentos diretamente do





Mahavatar Babaji (descrito como um cristo yogi imortal que vive nos Himalaias),







divulgado amplamente pelo Swami Paramahansa Yogananda em seu livro “Autobiografia de um Iogue” e que hoje conta com uma organização mundial, a Self-Realization Fellowship (com sede nos EUA).










5. Raja ou Ashtanga (Yoga de oito passos - Yoga Real): 



baseado no Tratado Yoga Sutra de Sri Patanjali é a modalidade mais elevada, conduzindo o aspirante ao silencio interior e à Liberdade.

O Yoga Sutra de Patanjali contém 196 aforismos (sutras) escritos em sânscrito, que seria a compilação do resumo de alguns séculos de debates entre filósofos e praticantes do Yoga.

È nesse tratado que se encontra a definição do Yoga:



Yogaçcittavrttinirodha

“O Yoga é o nirodha das vrttis de citta


Nirodha é o recolhimento, o ato de trazer para dentro algo que se espalhou do lado de fora.

Aquilo que se espalhou “do lado de fora” e que precisa ser recolhido é designado pela palavra vrtti

As vrttis seriam, portanto, expansões radiais de uma entidade central, espiritual, que partem em direção ao mundo manifestado, ou seja, as emanações.

A entidade central, cujas expressões manifestadas, ou vrttis, estariam sendo recolhidas com a prática do Yoga, é designada pela palavra citta.

Citta é um eixo em torno do qual giram as atividades mentais do ser humano, podendo simplificadaente ser traduzida como Mente.

Então a definição seria:

O Yoga é o recolhimento das emanações da Mente.


Os sutras são divididos em 4 capítulos:


  • Samádhipáda (capítulo do Samadhi)

O samadhi é uma condição superior da consciência, que fica a meio caminho entre a vigília e a inconsciência, na qual o praticante de Yoga precisa se colocar para poder realizar a meditação.
O primeiro capítulo é o que traz a maior variedade de assuntos, uma vez que trata de apresentar resumidamente todos os requisitos à prática do Yoga.

  • Sádhanapáda (capítulo da prática)

Esses mesmos requisitos serão observados no segundo capítulo sob uma ótica mais prática, que apresenta os oito passos da realização do Yoga: 


1. Yama: código moral composto por 5 itens, refere-se a atitudes a serem evitadas: ahimsa (não violência), satya (compromisso com a verdade), asteya (não roubar ou isenção da avareza), brahmacharya (controle do prazer sensual) e aparigraha (desapego, não possessividade, não cobiça)
2. Niyama: refere-se a atitudes a serem praticadas, auto-purificação e estudo, também composto por 5 itens: saucha (purificação, limpeza), santosha(contentamento), tapas (disciplina, austeridade), svadyaya (auto estudo e estudo das escrituras sagradas), ishvara pranidana (devoção e entrega à Deus).
3. Asanas: postura do corpo, firme e confortável.
4. Pranayama: controle da respiração, energia vital.
5. Pratyahara: controle e abstração dos sentidos.
6. Dharana: concentração.
7. Dhyana: meditação.
8. Samadhi: iluminação.


  • Vibhútipáda (capítulo dos resultados)

Tem por tema a meditação do Yoga (o samyama) e os resultados que ela produz.

  • Kaivalyapáda (capítulo da Integração)

O último capítulo trata do objetivo final do Yoga, o Kaivalyam.
O Kaivalyam é a destruição de todo o apego à diferenciação, e a vivência da integração total do indivíduo com tudo o que existe, como se fossem uma mesma e única existência absoluta.

Os sutras tornam evidente o fato de que o Yoga é uma disciplina que trabalha com a mente, e que o corpo é apenas uma ferramenta adicional para o correto desempenho prático.




6. Hatha Yoga (Ha-Sol e Tha-Lua)





As sílabas (Há e Tha) referem-se às duas correntes que regulam os processos de nosso corpo (energia positiva e negativa, respectivamente, lado direito e esquerdo do corpo) o Hatha Yoga tem enfoque na promoção da saúde física e o despertar da energia Kundalini (Shakti) levando-a da base da coluna ao topo da cabeça, proporcionando ao yogi a expansão de sua Consciência e união com o Princípio Cósmico.
Esse sistema de Yoga surgiu da Tradição indiana Natha, e atualmente é o mais conhecido e praticado no ocidente. Suas características principais são as posturas corporais (Asanas), exercícios respiratórios (Pranayamas), Chaves e Selos de energia (Bandhas e Mudras), técnicas de limpeza do corpo (Shat Kriyas) e a Meditação.
A bibliografia básica para o Hatha Yoga é o Yoga Pradipika, o Gheranda Samhita e o Shiva Samhita. Deixo aqui um link para download gratuito dos três livros: (http://www.yogavidya.com/freepdfs.html)

O Hatha Yoga moderno teve uma de suas maiores influencias com o mestre Tirumalai Krishnamacharyaum brâmane nascido há mais de 100 anos em uma pequena vila do sul da Índia.

Khishnamacharya influenciou ou talvez até tenha inventado as formas de Yoga praticadas atualmente. Seus quatro principais discípulos desenvolveram as principais subdivisões do Hatha Yoga no mundo moderno e contribuíram enormemente para popularizar o yoga no Ocidente. São eles:



Pattabhi Jois (Ashtanga Vinyasa Yoga) pioneiro em refinar as posturas, colocá-las em seqüência e em associar valor terapêutico a elas. Ao combinar o pranayama (exercício respiratório) com a asana (postura), ele transformou as posturas numa parte integrante da meditação em vez de ser apenas um passo que levava ao estado meditativo.

BKS Iyengar (Iyengar Yoga) método refinado de alinhamento postural, concentração e permanência noas posturas, tornando a anatomia do corpo perfeita.

Indra Devi (Yoga Integral) prática de posturas e movimentos corporais, exercícios respiratórios e mentais.

TKV Desikashar (Viniyoga) A palavra "Viniyoga" quer dizer "aplicação". As técnicas do yoga devem ser aplicadas conforme os níveis das pessoas. Portanto, "Viniyoga" não é um yoga diferente, mas um modo diferente de ensiná-lo.


Muitas pessoas me perguntam também sobre o Swasthya e o Power Yoga, atualmente muito difundido em academias de ginástica e estúdios no Brasil. Esses estilos são releituras contemporâneas do Hatha Yoga tradicional e Ashtanga Vinyasa Yoga, respectivamente, feitas por mestres ocidentais. O Swasthya é uma sistematização do Hatha Yoga feita pelo brasileiro DeRose e o Power Yoga, criada por um mestre norte americano, é um estilo que trabalha com exercícios mais dinâmicos e seqüências conectadas, uma adaptação ocidental do dinamismo do Ashtanga Vinyasa Yoga.

Em resumo e de forma simplista, podemos afirmar que todos os estilos de Yoga que envolvem asanas, pranayamas e se focam na promoção da saúde psico-física associada à meditação, seja qual método, o nome que é dado, mestre que o adaptou ou a forma de ensiná-lo são essencialmente Hatha Yoga.

Bem, depois dessa descrição e abrangência de ramificações do Yoga ao longo dos anos, para o iniciante pode surgir a dúvida: “qual o melhor yoga para mim?” ....

Para isso é importante definir dentro de si quais são seus objetivos com as aulas, as características de sua individualidade e sua atual condição física e psico-emocional, além disso, realizar uma detalhada pesquisa sobre a qualidade do espaço-centro-academia escolhido e os profissionais que o irão instruir.

Na maioria dos locais onde se ensina Yoga (pelo menos no Brasil) é possível fazer uma aula experimental das modalidades oferecidas, o que é muito indicado. No final das contas, iremos descobrir que “melhor Yoga” é aquele que traz à superfície a perfeição que está dentro de cada um de nós.





sábado, 17 de abril de 2010

Origem: Yoga e Xamanismo Siberiano








O Yoga é um conceito que se refere a um movimento cultural de disciplinas físicas e mentais que se desenvolveu ao longo de milênios na região da Índia, adquirindo projeção mundial e tendo hoje milhões de praticantes e várias vertentes. Está associada a práticas meditativas do hinduísmo, budismo e taoísmo.

Usualmente a palavra Yoga costuma ser traduzida como união, pois deriva da raiz sânscrita Yuj (unir, juntar) e se refere ao objetivo final e comum a todas as linhas de Yoga, a re-conexão do indivíduo consigo mesmo e união, integração com o Universo...ou melhor dizendo...a dissolução da ilusão de separativiadade.


Algumas autoridades opinam que o Yoga nasceu diretamente do Xamanismo (arte sagrada de mudar o próprio estado de consciência a fim de penetrar em outros domínios da realidade) e dessa forma teria se iniciado na região da Ásia Central (mais especificamente na Sibéria) chegando à Índia com o deslocamento dos povos para a região Indostan, adquirindo então suas características mais marcantes e nomenclatura. Segundo Michael Harner, a transição do Xamanismo ao Yoga aconteceu na época em que surgiram as primeiras cidades-estado e que os xamãs começaram a ser perseguidos e mortos, tendo então de encontrar um meio silencioso de alcançar a expansão da consciência. 

O Xamanismo foi datado em cerca 25.000 a.C. porém muito provavelmente é mais antigo, pessoalmente me inclino a acreditar nisso, pois tive oportunidade de conhecer a Sibéria (região montanhosa de Altai) nos anos de 2005 e 2007, tendo contato com grupo de descendentes da cultura xamânica, que afirmam ter o Xamanismo Siberiano 40.000 anos.





Nessa experiência percebi ser uma cultura fantástica, com uma diversidade de conhecimentos muito grande, afirmam por exemplo,
que o homem tem não uma, mas cinco almas....Uma vivendo no passado (a alma Tios, simbolizada por um peixe e da qual nos devemos libertar), uma vivendo no presente (a alma Kut, simbolizada pelo cervo e que denota condições de saúde física e energia vital), uma vivendo no futuro (alma bos, simbolizada pelo pássaro e que nos traz uma visão das possibilidades e clarividência), uma que vive fundida à Alma Divina – Deus Tengri (alma Ayi e que nos traz intuição e sensação de união com o Todo) e por ultimo a alma que viaja entre os mundos (alma Sur, simbolizada pela alma do ser humano, e que é responsável pelos sonhos lúcidos,a viagem do transe e comunicação com o mundo dos espíritos).

Também uma das técnicas mais conhecidas do Yoga – sentar-se de pernas cruzadas e coluna ereta, em algumas das diversas posturas yogues – tem a sua prefiguração xamânica. No livro Where the Spirits the Wind, a antropóloga norte americana Felicitas Goodman examinou diversas posturas xamânicas que são usadas para provocar o êxtase ou viagens para fora do corpo. Parece que cada postura tem um efeito especifico para a mente.

É difícil provar essa teoria de que o Yoga tenha influencia das praticas xamânicas, porem os xamãs siberianos afirmam reconhecer no Hatha Yoga algumas posturas corporais comuns também nas práticas do Xamanismo Siberiano, como a imitação de animais (transfiguração).










A finalidade última do yogin, porém, é ir além dos níveis sutis da existência explorados pelo xamã e realizar o Ser transcendente, transdimensional e não qualificado, que o yogin sabe ser sua identidade mais profunda.

Mas, voltemos à Índia…..Os indianos crêem que o criador do Yoga foi o próprio Deus Shiva, logo ao procurar as primeiras representações dessa divindade, encontramos Pashupati, o Deus dos Animais, que tem referencia no Mahabharata e do qual foram encontradas sítios arqueológicos Neolíticos, nas cidades de Monhenjo-Daro e Harappa (Vale Indo) com pelo menos 5.000 anos.



São sinetes de esteatita com imagens de um homem sentado em asana, comprovando existência dessa prática já nesse período.


Já a mitologia conta que Shiva revelou o Yoga à sua esposa Parvati, à beira de um rio, porém esta adormeceu profundamente. Um peixe, embevecido com as inspiradas palavras do maháyogi, ergueu-se acima das águas agitadas do rio para que nenhuma das palavras do mestre se perdesse. Apiedado da criatura aquática que se tornara um discípulo insólito, Shiva o tranformou em homem, que passou a se chamar Matsyendra (soberano dos peixes) e o primeiro mestre de Yoga da linhagem Natha (tradicional linha de mestre de Yoga na Índia).







O sono de Parvati, longe de ser ofensivo, oferece uma ilustração de um dos mais profundos temas do Yoga: a natureza da consciência e suas alterações de estado.



O fato é que qualquer que seja a origem do Yoga, a configuração atual da filosofia e práticas se desenvolveu e consolidou apenas na Índia, onde se ramificou em alguns sistemas principais (Bhakti, Jnana, Karma, Kriya, Raja e Hatha Yoga) que abordaremos posteriormente...


segunda-feira, 5 de abril de 2010

Invocação inicial e apresentação

"Invocação inicial e apresentação.
I:1.
Eu saúdo o Primevo Senhor, Shiva, que ensinou o conhecimento do Hatha Yoga, à sua esposa Párvatí. Este conhecimento, como uma escada, conduz ao elevado Raja Yoga."
H.Y.Pradipika



HATHA YOGA NAMAHA

em construção...

Uma longa jornada começa com um único passo....